terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

QUILOMBO MANDIRA MANTÉM VIVA A HISTÓRIA DO NEGRO NO BRASIL

Texto: Antonio Adami
Fotos: Ana Godeghesi

Entrada do Quilombo Mandira
     Os negros escravos que fugiam das fazendas brasileiras no séc. XIX, eram perseguidos e, se pegos, sofriam todo tipo de tortura e a morte. Somente conseguiam fugir aqueles que se embrenhavam na mata selvagem e de dificílimo acesso. Nestes locais é que se reuniam, no que ficou conhecido como quilombos. Até hoje muitos negros e descendentes vivem em comunidades quilombolas, da cultura da terra, pesca e mantendo vivas as tradições de seus antepassados. Visitamos um desses quilombos, perdido  em uma encosta marítima, na mata do Vale do Ribeira, entre o Estado de São Paulo e Paraná, município de Cananéia, em São Paulo. Uma região com natureza esplêndida, cercada de ilhas: Ilha do Cardoso, Ilha Comprida, Ilha do Mel, e praticamente intocada pela exploração e especulação imobiliária.

Mata Fechada nas proximidades
 do Quilombo Mandira
Estilo de vida simples mantém vivas
as tradições dos antepassados

Morador local rema para chegar no viveiro das ostras
     Estivemos no quilombo Mandira no começo de fevereiro deste ano e percebemos que realmente as tradições se mantém, na alimentação, nas crenças, na cultura da terra, no contato com o mar e o domínio das forças da natureza. A primeira impressão é de que aquelas crianças, jovens e senhores vivem longe de tudo, devagar percebemos que estão sim antenados com o que acontece, através do rádio e televisão, pois a luz elétrica chegou ao quilombo em janeiro de 2010, pelo programa “Luz para todos”, do governo federal. Algo que nos surpreendeu muito foi a gentileza com que fomos tratados. Almoçamos em uma cozinha de roça, tudo muito simples mas extremamente saboroso: peixe, ostras, frango, salada, arroz, feijão e farinha.  A temperatura nesta época do ano chega a 40 graus e não há vento, há sim muito mosquito.


Produção de ostras mantém
os moradores do Quilombo Mandira
No mangue de aproximadamente 1000km² é possível
encontrar algumas pérolas dentro das ostras











     Nos perguntávamos como os quilombolas viviam e tivemos a grata surpresa de conhecer os viveiros de ostras que mantém nas costas marítimas da região. Navegando aproximadamente 1 hora e meia em um barco empurrado por uma vara de bambu bem comprida, e também, depois de certo trecho, puxado por outro barco, este a motor. Centenas de ostras estavam ali, algumas com pérolas, em um mangue de aproximadamente 1000 km², ainda intacto e com riquíssima biodiversidade, onde encontramos jacarés, pássaros, aves, muitos caranguejos, vermelhos, amarelos. Os descendentes dos quilombos transportam as ostras até um vilarejo próximo, cerca de 30 km, para a Cooperativa dos produtores de ostras de Cananéia – Cooperostra. Esta é formada por pessoas da Comunidade Mandira e comunidades de Cananéia e Itapitangui, com certificação do Serviço de Inspeção Federal (S.I.F). Estas ostras são vendidas diretamente aos comerciantes em todo o litoral sul e norte de São Paulo. A exploração de ostras teve início há 37 anos. O projeto de Ordenamento da Exploração de Ostras do Mangue no Estuário de Cananéia, da Fundação Florestal, vinculada à Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, venceu o Prêmio Iniciativa Equatorial 2002, durante encontro da Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10, realizado em Johanesburgo, na África do Sul, em agosto de 2002.

A comunidade quilombola conta também com a
produção de artesanato dos moradores locais
Costureiras também contribuem para a economia local

Repleto de belezas naturais, a temperatura nesta época do ano chega a 40 graus