Texto: Antonio Adami
Fotos: Ana Godeghesi
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Entrada do Quilombo Mandira |
Os negros escravos que fugiam das fazendas brasileiras no séc. XIX, eram perseguidos e, se pegos, sofriam todo tipo de tortura e a morte. Somente conseguiam fugir aqueles que se embrenhavam na mata selvagem e de dificílimo acesso. Nestes locais é que se reuniam, no que ficou conhecido como quilombos. Até hoje muitos negros e descendentes vivem em comunidades quilombolas, da cultura da terra, pesca e mantendo vivas as tradições de seus antepassados. Visitamos um desses quilombos, perdido em uma encosta marítima, na mata do Vale do Ribeira, entre o Estado de São Paulo e Paraná, município de Cananéia, em São Paulo. Uma região com natureza esplêndida, cercada de ilhas: Ilha do Cardoso, Ilha Comprida, Ilha do Mel, e praticamente intocada pela exploração e especulação imobiliária.
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Mata Fechada nas proximidades
do Quilombo Mandira |
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Estilo de vida simples mantém vivas
as tradições dos antepassados |
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Morador local rema para chegar no viveiro das ostras |
Estivemos no quilombo Mandira no começo de fevereiro deste ano e percebemos que realmente as tradições se mantém, na alimentação, nas crenças, na cultura da terra, no contato com o mar e o domínio das forças da natureza. A primeira impressão é de que aquelas crianças, jovens e senhores vivem longe de tudo, devagar percebemos que estão sim antenados com o que acontece, através do rádio e televisão, pois a luz elétrica chegou ao quilombo em janeiro de 2010, pelo programa “Luz para todos”, do governo federal. Algo que nos surpreendeu muito foi a gentileza com que fomos tratados. Almoçamos em uma cozinha de roça, tudo muito simples mas extremamente saboroso: peixe, ostras, frango, salada, arroz, feijão e farinha. A temperatura nesta época do ano chega a 40 graus e não há vento, há sim muito mosquito.
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Produção de ostras mantém
os moradores do Quilombo Mandira |
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No mangue de aproximadamente 1000km² é possível
encontrar algumas pérolas dentro das ostras |
Nos perguntávamos como os quilombolas viviam e tivemos a grata surpresa de conhecer os viveiros de ostras que mantém nas costas marítimas da região. Navegando aproximadamente 1 hora e meia em um barco empurrado por uma vara de bambu bem comprida, e também, depois de certo trecho, puxado por outro barco, este a motor. Centenas de ostras estavam ali, algumas com pérolas, em um mangue de aproximadamente 1000 km², ainda intacto e com riquíssima biodiversidade, onde encontramos jacarés, pássaros, aves, muitos caranguejos, vermelhos, amarelos. Os descendentes dos quilombos transportam as ostras até um vilarejo próximo, cerca de 30 km, para a Cooperativa dos produtores de ostras de Cananéia – Cooperostra. Esta é formada por pessoas da Comunidade Mandira e comunidades de Cananéia e Itapitangui, com certificação do Serviço de Inspeção Federal (S.I.F). Estas ostras são vendidas diretamente aos comerciantes em todo o litoral sul e norte de São Paulo. A exploração de ostras teve início há 37 anos. O projeto de Ordenamento da Exploração de Ostras do Mangue no Estuário de Cananéia, da Fundação Florestal, vinculada à Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo, venceu o Prêmio Iniciativa Equatorial 2002, durante encontro da Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+10, realizado em Johanesburgo, na África do Sul, em agosto de 2002.
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A comunidade quilombola conta também com a
produção de artesanato dos moradores locais |
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Costureiras também contribuem para a economia local |
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Repleto de belezas naturais, a temperatura nesta época do ano chega a 40 graus |